Planejando seu personagem original



Criar um personagem não é tão fácil como alguns podem imaginar (embora eu duvide que haja algum escritor ou desenhista de verdade que pense dessa forma). Personagens são, assim como humanos normais, seres complexos. Se você é artista, de qualquer tipo de arte, deve sentir que é justamente essa complexidade que faz da sua arte tão atraente. E assim surge a pergunta: Uma complexidade simplificada continua sendo atraente? A resposta para essa pergunta é sim, e o Centro de Construção Criativa vai mostrar isso na prática para você, caro leitor.







(... Que introdução complicada essa.)


Esse, caro leitor, é o início de uma nova saga do Centro de Construção Criativa (nossa primeira saga, que começou recentemente, você pode encontrar clicando aqui), e vai tratar sobre Design de personagem, algo essencial para quem quer, por exemplo começar uma HQ, mangá, Webtoon, webcomic, ou até mesmo criar um jogo próprio.



Personagens não são só feitos de características que foram implementadas aleatoriamente para que pareçam interessantes. Você pode querer colocar um sujeito carrega  por todos os lugares uma arma grandona num cenário pós-apocalíptico só porque achou legal. Tudo bem se essa ideia estiver contextualizada de alguma forma (mas convenhamos que carregar uma arma grande consigo por todos os lugares não é bem uma ideia muito lógica), tudo tem que ter algum objetivo. Minúsculos acessórios podem mudar completamente a visão que se tem de um personagem.





Seu personagem é humano? É uma criatura de outro planeta? Ou foi algo construído por um humano, um robô? Essas perguntas formam a base do que será o design completo. Dificilmente alguém conseguiria reproduzir Wall-E como um humano e fazer ele continuar apaixonante do jeito que é. Isso é porque ele foi criado tendo o fato dele ser um robô em mente. Pode parecer meio bobo a princípio, mas essa é uma parte essencial dentro desse processo.


Tudo preparado nesse ponto? Dá uma respirada que tem muito mais texto pra ler.


Personagens precisam de características. Isso é senso comum. Talvez você já tenha pensado em alguma parte da personalidade ou aparência dele, algo marcante, facilmente identificável. Esse fator marcante deve ter vindo por causa do contexto em que ele está inserido, ou seja, da obra em que você irá colocá-lo e seu objetivo dentro dela. É o que acontece,por exemplo, em "Salty Studio", manhwa da imagem abaixo.



Se veio aqui sem ideia absolutamente alguma do que fazer e por onde começar, não se preocupe, o começo é bem simples. É justamente o que eu citei antes sobre uma encontrar uma característica marcante. Um dos métodos que eu sugiro caso você não souber como escolher uma característica marcante é escrever uma lista de no máximo 5 adjetivos, todos com sentidos bem distantes entre si, e então escolha um, apenas um, que pareça mais atrativo, e fácil de se usar. Esse adjetivo pode ser o que você precisa para formular a base do seu personagem.


Basicamente, o que você precisa é de uma única palavra que possa defini-lo num todo. Deixar as coisas simples no começo te ajuda mais do que pensa (diz a pessoa que gosta de complicar as coisas). Pode ir complicando depois, se quiser, sempre tendo certeza de manter as características principais em evidência, para que seu personagem seja facilmente reconhecível. Afinal, sabemos que coisas fáceis costumam ser mais atrativas.


E sabe o que é bem fácil de acontecer? 

Negligenciar a importância de conhecer seu personagem. 


Não, vamos mudar essa frase... Negligenciar a importância de ser íntimo de seu personagem

Aliás, você é tipo o progenitor dele. Enfim, saber sobre cada mínima coisa sobre ele é a sua responsabilidade. Do que gosta, do que não gosta, se é introvertido ou extrovertido, o que faria se fosse a pessoa mais rica da face da Terra (ou seja lá qual for o planeta em que você decidiu que ele fosse jogado), quem tem que saber de cada uma dessas informações é ninguém mais ninguém menos que a sua pessoa. Isso torna ações artificiais muito menos prováveis de acontecerem.

Ou seja: Faça com que seu personagem pareça simples, mas conheça-o bem.


*O Centro de Construção Criativa entende que vir com uma ideia de personalidade pode ser complicado caso estiver trabalhando com muitos personagens que são muito explorados ao longo da narrativa, então sugerimos que dê uma olhada nos tipos Myers-Briggs só para ter um pouquinho de inspiração no momento de escrevê-los. Misture os tipos e depois faça as modificações que desejar. Lembre-se de evitar copiar alguma dessas descrições de personalidade para colocar no seu personagem. Seja original e faça com que ele seja interessante com seu próprio tempero!*



     




Leitor aleatório: "Tá bom, tá bom. Entendi o que você quer dizer. Mas eu quero é desenhar. Cheguei até aqui e até agora não vi um indício do design dentro dessa coisa de design de personagem."

Bom momento para se queixar disso (que frase estranha)! Isso porque é neste exato momento que vou começar a escrever sobre a parte visual que vocês tanto esperavam.





Na imagem acima vemos o personagem principal remasterizado de "Knite" por Wenqing Yan, mais conhecida como "Yuumei". O que você pensa quando o vê? O que ele é, o que ele faz, sua nacionalidade? Conseguiria adivinhar alguma dessas coisas só de olhar para ele? Algumas informações talvez sejam difíceis de se decifrar, mas é possível descobrir algo a partir dessa primeira imagem. Pela expressão parece ser mal-humorado, talvez teimoso, e a pipa pode estar dando força à segunda ideia. Mas qual é a razão de estar segurando uma pipa? Será que ela adiciona algo à "atmosfera" do personagem? Por que ele usa esse tipo de roupa, que parece um tipo de uniforme?

E o mais importante...

Quando será que eu vou parar de te fazer perguntas como se estivesse dando aula de filosofia?

As respostas para todas essas perguntas ficam por sua conta. Com exceção dessa última, cuja resposta é "eu não sei". 
*Se permanecer curioso, pode ir conferir o trabalho em que ele está inserido indo no site da Yuumei. (Isso se souber inglês).*
Todas essas informações formam a identidade visual desse rapaz. Você com certeza deve ter pensado em algo quando o viu, qualquer coisa: "é bonito", "é feio", "qual é a dessa cara?". E também deve ter chutado (e acertado) algo sobre sua personalidade e estilo de vida. Tentar descobrir o que um autor gostaria de passar através da aparência de um personagem o deixa ciente das várias formas de expressar ideias, e uma vez que esses conhecimentos estão organizados na sua cabeça, conseguirá achar uma forma mais confortável de fazer o seu público entender sua mensagem mais claramente.

Voltemos um pouco para o assunto tratado na primeira parte desse post. Isso é... Personalidade. Sei que bolar uma personalidade pode ser meio chato para alguns de vocês, mas, no fim, simplesmente não há como escapar disso. E isso porque a personalidade afeta diretamente no design. Imagino que a maioria (se não for todas) das pessoas que estão lendo esse texto devem conhecer a seguinte frase: "Nunca julgue um livro pela capa". 
Você vai fazer exatamente o oposto disso enquanto estiver estudando design de personagem.
De uma forma ou de outra, a personalidade se reflete pela aparência, mesmo que só um pouquinho. Como sempre, sugiro que observe exemplos ao seu redor para usar de referência para isso. Os quadrinhos, animações e jogos de que você mais gosta envolvem design de personagem, então use isso a seu favor.



Essa parte aqui é coisa importante! (Mas você leu o resto, né?): 
Dou meu sincero por favor para que você escolha com antecedência o seu público-alvo. Isso afeta e muito na apresentação e no próprio contexto da sua obra. Digamos que você está fazendo um programa infantil. Crianças normalmente se sentem mais atraídas por cores vibrantes, personagens vibrantes, e vozes altas. Isso pode se tornar facilmente irritante se o programa em questão for direcionado para um público mais maduro. E essas mesmas crianças dificilmente se tornariam interessadas por coisas muito sombrias, ou que não conseguem compreender direito. Elas querem tudo na mão, sem rodeios, sem metáforas, e quanto mais fácil, melhor. Adolescentes, por outro lado, são seres bem complicados, ficando lá no meio termo do público "infantil" e do público "maduro". Eles estão desenvolvendo suas personalidades e lutando contra os hormônios, ocasionando um fenômeno chamado "aborrecência" (também conhecido como "Ninguém me entende"). Bem, então como atrair um público tão complicado? Fazendo ele saber (ou achar) que você, de alguma forma, o entende. E isso pode ser feito usando a linguagem deles, seu meio, seus problemas. 

Leitor aleatório #2: "Estou sentindo que você está generalizando demais."

E você não está errado. Uma coisa que é importante aprender para vender bem um produto é generalizar, ou seja, saber do que a maioria gosta e partir dessa informação adaptar o produto para que a maioria esteja satisfeita. Mas também não estou dizendo que não é possível atrair públicos diferentes pra uma coisa só, olha aí os filmes do Studio Ghibli, por exemplo. E ainda tem essa maravilha de desenho:




Se possui características que fazem dele um programa infantil, possui. Porém, ele também tem um humor sutil, que atrai os adultos. Eu poderia ficar horas e horas escrevendo sobre Phineas e Ferb, mas vou economizar para futuros posts (desculpa pelo spoiler, hehe). Perceba que mesmo que esse programa de fato atraia a atenção de adultos, ele continua sendo voltado principalmente para o público infantil (repare nas cores vibrantes usadas para compor os personagens). E isso é o ideal a se fazer. Sutilmente chame a atenção de outros públicos, não retirando o público-alvo da sua mente.


Achou esse texto grande? Isso só foi um gostinho do que será o restante da nossa saga. E vocês podem ir se preocupando com a regularidade das coisas postadas aqui, porque escrever tudo isso não demora pouco não. Mas vou me esforçar para trazer conteúdos completos nas raras vezes em que aparecer aqui.

Opiniões? Sugestões? Só tá solitário? Escreva um comentário!
Ah, e volta aqui mais vezes. Caso contrário, esses textões serão escritos em vão.

Até mais, pequeno gafanhoto.





Comentários